O mundo enfrenta uma escassez de suco de laranja. O Brasil, maior produtor da bebida, está com o menor estoque da série histórica feita pela Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), iniciada em junho de 2011.
Atualmente, há 84.745 toneladas do suco armazenadas pelos associados, 40% a menos do que na comparação com o ano passado.
A maior parte do que é produzido nesse setor no Brasil vai para exportação. Ainda assim, a competição entre a indústria e o consumidor pela laranja aumenta o preço da fruta, explica Fernanda Geraldini, pesquisadora de frutas da equipe de hortifrúti do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/ Esalq – USP).
O Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) de agosto mostrou que os sucos de frutas (não é feita uma discriminação por sabor) ficaram 10% mais caros. Já o preço da laranja pera, a mais popular, subiu 9% no mesmo período. A lima foi a que mais encareceu: 17%.
E, para a indústria, a fruta também não está mais barata. Em setembro, a laranja pera encareceu 16,6% na comparação com o mesmo mês em 2022, apontam dados do Cepea.
Por que está faltando laranja?
Esse cenário é causado pelas dificuldades em se produzir a laranja, causadas por dois fatores:
- Esses problemas não estão afetando apenas a produção brasileira, como também a dos Estados Unidos, que também são protagonistas neste cultivo.
- O país também tem o pior volume de laranjas desde o início da série histórica do Departamento de Agricultura do país (USDA).
- Antes de a produção começar a cair por causa do “greening”, na safra de 2011/2012 os EUA ocupavam o segundo lugar na produção de suco de laranja no mundo, perdendo apenas para o Brasil. Hoje, os norte-americanos estão em terceiro, atrás também do México.
- Além do Brasil e Estados Unidos, o México e a Espanha enfrentaram secas severas e reduções nas colheitas, ao mesmo tempo em que experimentam uma forte demanda por laranjas em seus mercados de frutas frescas.
O avanço do ‘greening’
O “greening” é causado por um fungo que afeta os pés que ainda estão se desenvolvendo e são novos nos pomares, explica o presidente da Associação Brasileira de Citros de Mesa (ABCM), Antonio Simonetti.
A doença faz com que o fruto fique pequeno e caia antes da hora. Com isso, os produtores dependem de árvores mais antigas, mas que já têm uma baixa produtividade pela idade.
O Brasil já enfrentou esse mal anteriormente, mas, segundo Simonetti, os insetos que disseminam as doenças estão resistentes aos agrotóxicos que já existem para combater a praga, o que dificulta o combate, que se torna dependente do desenvolvimento de novas variedades de laranjas e pesticidas.
Com isso, muitos produtores estão desistindo da laranja e iniciando outras culturas, como o milho, ou até mesmo se deslocando para regiões em que a fruta ainda não é muito plantada, sendo áreas sem disseminação de “greening”.
Mas a doença não é o único problema que a laranja enfrenta. A instabilidade climática também está colaborando com os números. As altas temperaturas fora de época, quando o fruto está se desenvolvendo, também fazem a laranja cair do pé antes da hora, diz o presidente da ABCM.
As chuvas irregulares também dificultam o desenvolvimento do cultivo.
Já nos Estados Unidos, há ainda os ciclones que atingem a Flórida, explica Geraldini do Cepea.
Competição pela laranja
Com menos laranja colhida, a indústria passa a competir com os supermercados e feiras pelo produto de mesa, aquele que é cultivado para consumo em casa, deixando a fruta mais cara, afirma Simonetti.
“Estão ficando poucos produtores que querem fornecer para o supermercado por causa da exigência de tamanho de fruta e qualidade”, diz.
Ele afirma que os supermercados pagam menos e devolvem a fruta quando a aparência não está perfeita, uma vez isso é importante para o consumidor. Já para fazer suco, as com defeitos também podem ser usadas.
E, mesmo com todos esses problemas, a demanda brasileira por laranja se mantém alta, o que ajuda a diminuir os estoques, ressalta Felippe Serigati, do Centro de Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV Agro).
Vai melhorar?
Para o preço da laranja e do suco melhorarem no Brasil, é preciso aumentar a oferta mundial, para diminuir a competição pela fruta.
Para Serigati, a melhora dos estoques depende de como serão as próximas safras dos Estados Unidos. Isso porque, com a recuperação do país, teria mais laranja no mercado.
Contudo, o pesquisador lembra que a laranja é uma cultura permanente, ou seja, ela não é plantada a cada safra, mas são pomares fixos que dão frutos em ciclos. Com isso, a produção da fruta pode demorar mais para se recuperar.
Mas o Brasil também tem um papel importante nessa recuperação, aponta a pesquisadora do Cepea Geraldini. E a melhora do estoque vai depender do clima, se o país manterá altos níveis de vendas, impedindo o incremento dos estoques e se o “greening” continuará avançando.
“Única coisa que talvez a gente pode garantir é que não vai ser no ano que vem”, afirma.
Para ela, os Estados Unidos dificilmente voltarão a ter uma produção de grande relevância. Isso porque, há alguns anos, o país sofre com a queda da colheita, uma vez que o declínio acontece de forma contínua desde a safra 2018/19.
Fonte: G1