Mais comum do que você imagina, o mau hálito ou halitose acomete 1 em 4 adultos e é definido como uma alteração do hálito que o uso de uma bala de menta ou um bochecho não resolvem. A literatura médica esclarece que se trata de um sintoma e não é doença, e que ele conta mais de 40 causas diferentes. Porém, em 90% dos casos, trata-se de um problema bucal.
Em um passado recente, os dados científicos sobre o problema eram escassos. A explicação para isso é que até mesmo entre os cientistas, falar sobre o assunto era um tabu que esbarrava em diferenças culturais e raciais na percepção de odores. Hoje, sabe-se que a halitose tem um impacto negativo na vida pessoal e social dos indivíduos por ela acometidos, especialmente porque, por vezes, não é por eles perceptível e, a depender da hora do dia e do tipo de dieta de cada pessoa, o incômodo se intensifica —para pior.
O primeiro passo para a solução do problema é deixar a vergonha de lado e, ao perceber um gosto ou cheiro estranho na boca, perguntar para algum conhecido (com quem se tenha alguma intimidade), se ele sente o odor pronunciado. Se a resposta for afirmativa, a medida seguinte é procurar um profissional para que ele possa investigar a origem da halitose. E os especialistas garantem: a chance de encontrar solução para o mau hálito é grande.
Por que o cheiro é tão desagradável?
Na sua boca convivem 700 tipos diferentes de bactérias que têm função protetiva – elas não só ajudam no processo de digestão como evitam a instalação de micro-organismos nocivos que colocariam em risco a sua saúde bucal e sistêmica. Também chamada de flora bucal, esse conjunto de bactérias vive em equilíbrio para cumprir essas funções.
“Quando há um desequilíbrio e elas se proliferam, formando um biofilme, também conhecido como placa bacteriana, elas liberam compostos sulforosos voláteis que têm um odor característico que é percebido como cheiro de ovo podre”, explica Rosileine Uliana, cirurgiã-dentista e integrante da Comissão de Halitologia do CRO (Conselho Regional de Odontologia).
Conheça as principais causas do mau hálito
A origem do problema pode ser bucal e extra bucal. A primeira é responsável por 90% dos casos. Confira:
Causas bucais
- Saburra (placa bacteriana depositada sobre a língua);
- Cárie;
- Periodontite;
- Gengivite;
- Cáseos (placas bacterianas depositadas nas amígdalas);
- Xerostomia (boca seca);
Causas extra bucais
- Insuficiência renal e hepática;
- Diabetes descontrolado;
- Infecções dos brônquios e pulmões;
- Estresse;
- Refluxo gastroesofágico.
Outros fatores que contribuem para o mau hálito
- Infecções na garganta ou no nariz;
- Baixo consumo de água;
- Uso de tabaco;
- Consumo de álcool;
- Respiração pelo nariz;
- Ronco.
Aprenda a identificar outros sinais
Muitas pessoas não conseguem perceber o odor mau cheiroso que emana da boca. Isso acontece em razão da chamada fadiga olfativa, ou seja, o nariz se “acostuma” com o cheiro e não mais detecta sua intensidade. É o mesmo fenômeno da percepção do perfume: depois de um tempo usando o mesmo tipo, parece que ele já não é tão intenso. A explicação é de Soraya de Azambuja Berti Couto, mestre e doutora em estomatologia e professora da PUC-PR.
Assim, é importante ficar atento a outros sinais que se manifestam com frequência. O mais comum deles é a saburra ou saburra lingual, que é uma camada espessa de placa bacteriana que se deposita na superfície da língua. “Imagine que ela é um tapete que acumula sujeira —no caso — alimentos, bactérias, células descamadas que se decompõem. A depender da espessura, não só o odor é alterado, mas também o paladar”, relata a especialista.
Além disso, você poderá observar sangramento, inchaço e vermelhidão nas gengivas, além da sensação de boca seca. “A saliva é um enxaguante bucal natural, que não só enxágua como remove a sobra de alimentos, e ainda contém proteínas antifúngicas, antibacterianas e antivirais”, acrescenta Débora Heller Douek, professora dos cursos de graduação e pós-graduação em odontologia da UNICSUL, em São Paulo.
Quando é a hora de procurar ajuda?
Toda vez que o sintoma persiste, apesar da adoção de medidas como boa higiene bucal, melhora da hidratação e da alimentação, redução do consumo de álcool e tabaco.
O cirurgião dentista é o profissional treinado para avaliar sua queixa.
O que esperar da consulta
O dentista fará a anamnese, ou seja, ele conversará com você para conhecer seu histórico de saúde física e psicológica, para identificar a possível causa e excluir outras, e ainda fará o exame físico —intra e extra bucal.
Como uma das causas da halitose é a boca seca, ele pode realizar um exame chamado sialometria —que mede o volume da saliva.
Como é feito o tratamento?
Em 90% dos casos, o problema é tratável. E as terapias corresponderão à doença de base que esteja relacionada à halitose. Por exemplo, se a causa for a falta de saliva, pode-se fazer uso de saliva artificial, medicamentos que estimulam a glândula salivar ou ajudem a saliva a tornar-se mais líquida. Laserterapia para estímulo salivar é outra possibilidade.
Caso tenham sido diagnosticadas gengivite, periodontite, e também seja identificada a saburra, o tratamento começa com instruções de higiene bucal personalizadas. Concomitantemente o dentista faz a higienização para remoção da placa bacteriana e do tártaro.
A depender da gravidade do caso, mudanças na dieta podem ser indicadas. E o apoio de uma nutricionista será essencial para a introdução de alimentos fibrosos como a maçã ou cenoura, que igualmente atuam como limpadores.
Em casos graves e extremos de doença periodontal, o dentista poderá considerar a indicação de cirurgia.
Cuidados com idosos
Com o envelhecimento ocorrem mudanças naturais fisiológicas no tecido bucal, o que pode predispor ao mau hálito. Some-se a isso o fato de que muitos adultos maduros fazem uso continuado de medicamentos que podem afetar o fluxo da saliva, aumentando o risco para o sintoma e ainda ter dificuldades para os movimentos próprios da escovação.
Caso você se encaixe nesse grupo ou seja responsável pelo cuidado de algum idoso, a higiene bucal não deve ser desprezada. Saiba que ela não se limita à higienização dos dentes e deve incluir bochecha e língua. E as consultas com o dentista devem seguir a mesma periodicidade dos adultos, ou seja, a cada seis meses ou no máximo 1 ano.
Ter mau hálito pela manhã é normal?
Sim. Isso acontece em razão do jejum prolongado das horas de sono e também como consequência da redução natural do fluxo de saliva. Após a higienização e a primeira alimentação do dia ele desaparece. Se isso não acontecer, consulte o dentista.
Dá para prevenir?
Sim, e a melhor forma é fazer visitas periódicas ao dentista para manter a saúde bucal em dia. Além disso, coloque em prática as seguintes medidas:
- Cultive e mantenha bons hábitos de higiene bucal;
- Escove os dentes usando creme dental com flúor, ao menos duas vezes ao dia, especialmente antes de dormir. Caso você use prótese, converse com seu dentista sobre a necessidade do uso de soluções antibacterianas;
- Aprenda a fazer uso correto do fio dental. Evite fios com haste porque eles removem apenas os resíduos alimentares, mas não retiram a placa bacteriana do sulco gengival;
- Faça uso do limpador lingual ou de uma escova com cerdas mais duras para higienizar a língua e suas laterais dela pela manhã e à noite. O seu dentista pode orientá-lo qual é a melhor solução no seu caso;
- Mantenha-se hidratado para garantir maior fluxo de saliva: consuma de 1,5 a 3,0 litros de água todos os dias;
- Tenha sempre ao seu alcance gomas de mascar sem açúcar para estimular a salivação;
- Reduza ou abstenha-se do consumo de tabaco;
- Reduza ou abstenha-se do consumo de álcool;
- Evite ficar mais de 3 ou 4 horas sem se alimentar. Contudo, lembre-se que certos alimentos podem intensificar o odor de seu hálito como alho, cebola ou azeitona.
- Fonte : uol