Campinas (SP) tem enfrentado dias cada vez mais secos, com índices de umidade relativa do ar abaixo dos 20% – o ideal é acima de 60%, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) -, e viu o número de atendimentos de pacientes com sintomas respiratórios na rede pública municipal dobrar em uma semana.
Dados do Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa) mostram que foram notificados 1.673 casos de pacientes com sintomas respiratórios entre 11 e 17 de agosto (semana epidemiológica 33), contra 834 da semana anterior (SE 32), alta de 100,5%.
O volume também é o maior desde a semana epidemiológica 27, entre os 30 de junho e 6 de julho, quando foram notificados 1.747 no SUS municipal.
Valéria Correia de Almeida, médica infectologista do Devisa, explica que o Painel de monitoramento de Sintomáticos Respiratórios reúne os dados de todos os atendimentos na rede municipal de pessoas com sintomas respiratórios, em sua maioria pacientes que procuram as unidades de saúde com nariz escorrendo, espirro ou tosse seca, comuns diante da condição climática atual.
“Temos observado um tempo extremamente seco, vários dias com umidade relativa do ar muito baixa, além de oscilação térmica, às vezes com 15 graus de diferença em um único dia, ondas de calor em meio a frentes frias, além das queimadas. Tudo isso contribui para a presença de muitas partículas no ar, e afeta quem tem tendências a episódios respiratórios, alérgicos”, pontua Valéria.
O que fazer?
A médica infectologista enfatiza a necessidade de reforço na ingestão de líquidos nesse cenário, essencial para hidratar as mucosas do nariz e boca, para evitar desconfortos e irritações, que podem servir como “porta de entrada” para vírus ou bactérias que provoquem quadros infecciosos.
“Esse clima está agredindo a gente, é preciso tomar cuidado. A maior parte dos sintomas com esse tempo seco são autorresolutivos, sintomas leves que são resolvidos com orientação sobre hidratação, lavagem nasal e, em alguns casos, com medicação para diminuir os sintomas. E são quadros que podem ser resolvidos nas unidades básicas de saúde”, destaca.
Dados do painel mostram que 93,5% das notificações foram realizadas por hospitais municipais e unidades de pronto atendimento (UPAs), sendo que os centros de saúde podem atender essas demandas para a população.
Além disso, de forma geral, recomendações simples, como a hidratação evitar atividades físicas nos períodos mais quentes do dia, são essenciais em períodos de tempo seco. Confira:
🏃🏼♀️ Evitar praticar exercícios e trabalhos ao ar livre no período entre 10h e 16h;
🏬 Evitar aglomerações em ambientes fechados
👁️ Usar soro fisiológico nos olhos e narinas
🚰 Umidificar o ambiente por meio de toalhas molhadas, recipientes com água e molhamento de jardins
☀️ Permanecer em locais protegidos do sol, em áreas vegetadas
🥃 Consumir água à vontade
“As pessoas que são alérgicas, podem colocar toalhas úmidas no quarto ou utilizar o umidificador. E é importante ficar atento com as crianças pequenas, que muitas vezes não conseguem contar sobre os incômodos do tempo seco”, complementa Valéria.
Mudança no tempo
A umidade relativa do ar (URA) em Campinas chegou a 14% às 13h40 desta terça-feira (20), e por isso a cidade entrou em estado de alerta, segundo a Defesa Civil.
A URA divide-se em três níveis: estado de atenção (URA entre 20 e 30%), estado de alerta (URA entre 12 e 20%) e estado de emergência (URA abaixo de 12%).
Esse quadro de dias quentes e com baixa umidade relativa do ar deve permanecer até o fim de semana, mas há previsão de chuva para Campinas no domingo, segundo Bruno Bainy, meteorologista do Centro de Pesquisas Meteorológicas da Unicamp (Cepagri).
E o efeito da chuva traz efeitos importantes para o aumento da umidade relativa, além da melhora da qualidade do ar.
“Há dispersão dos poluentes por deposição pelas chuvas, troca dessa massa de ar que está estagnada na região, que tem agravado as condições de saúde, principalmente de crianças e idosos”, pontua Bruno.
Mas nem tudo é benefício. Há expectativa que junto com a chuva a temperatura volte a despencar na região, e o frio também amplia a demanda por atendimentos na rede de saúde.
“Quando chega o frio há mais chance de processos infecciosos por conta de aglomerações. Temos centenas de vírus respiratórios circulando, não só da Covid-19. No frio as pessoas se fecham, diminui a circulação do ar e acaba tendo uma transmissão no ambiente”, explica Valéria Almeida.